Investir em escritórios pode levar Centro do Rio a novas crises imobiliárias
- Blog do Yan Ney
- 22 de mai. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 26 de jun. de 2023
Ocupação de imóveis na região subiu 7% em relação ao ano passado, com expectativa que siga a tendência em 2023

O Centro do Rio de Janeiro está, enfim, passando por um momento de recuperação econômica depois da pandemia e de instabilidades financeiras. Em 2021, um em cada quatro imóveis do bairro estava vazio, pelo que mostrou um levantamento da Buildings. A “JLL”, multinacional especializada em consultoria imobiliária, mostrou que a ocupação na região subiu 7% em 2022.
No entanto, quem anda pelo Centro ainda percebe a vacância de muitos imóveis comerciais, principalmente aqueles à beira das grandes avenidas. Em entrevista ao “O Dia”, o presidente do Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro, Pedro Wähmann, falou da dificuldade de atrair locadores para região.
"A área mais problemática do Rio indiscutivelmente é o Centro, que vem sofrendo não só pela crise econômica de 2017 como também pela desorganização urbana e falta de segurança. A dificuldade para comercialização e locação dessa tipologia de imóveis tornou-se aguda com a pandemia de 2020 e seus efeitos até o quarto trimestre de 2021",
Para Guilherme Chalo, doutorando e mestre em Planejamento Urbano e Regional pelo Instituto de Planejamento Urbano e Regional da UFRJ, um dos principais motivos da crise imobiliária no Centro do Rio é o investimento em escritórios, visto que, por estarem ligados a volatilidade do mercado, basta um momento de recessão econômica para o bairro entrar em crise.
"Algumas regiões apostaram no centro comercial de escritórios, que não é mais o centro comercial de rua. Quando a pandemia chega, impacta o circuito de imóveis comerciais, atingindo diretamente essa dinâmica. Enquanto apostarmos no sistema dos escritórios, vai dar errado, porque fica completamente refém da volatilidade do mercado”, afirmou o professor.
Ainda segundo o professor, uma das saídas está no investimento em ocupações acessíveis, inclusive habitacionais. Ele utiliza o argumento de que, mesmo em momentos de crise, a figura popular permanece. Diversificando a função do centro urbano, seria mais difícil dele entrar em crise por causa da volatilidade do mercado.
“Em algumas regiões do Rio, a dinâmica de comércio de rua nunca se perdeu, principalmente naquela região de comércio popular do Saara. Tem uma vida que permanece ali. Os escritórios saem e as populações continuam. Tem que incentivar que mais pessoas como essas permaneçam ali, pra gente fazer esse centro urbano com múltiplas funções e profissões. É a riqueza de um centro urbano”, completou.
O Movimento Unido dos Camelôs (MUCA), organização de trabalhadores informais que atua na defesa aos direitos humanos da classe, vem dialogando com o Governo Federal para discutir pautas como a regularização de depósitos de mercadorias e o planejamento para constituição de Centros de Referência dos Trabalhadores Informais.
Estímulo imobiliário no Porto Maravilha
Segundo a prefeitura do Rio de Janeiro, existem dois projetos paralelos de estímulo à região em andamento: Reviver Centro, que procura atrair novos moradores, aproveitando as construções existentes e terrenos que estão vazios há décadas; e o Reviver Centro Cultural, buscando estimular a reabertura de lojas próximas a Candelária e a Avenida Rio Branco.

Em janeiro, a prefeitura do Rio lançou o sexto empreendimento imobiliário no Porto Maravilha em menos de dois anos, somando 15 novos edifícios habitacionais. Quando estiverem prontos - segundo as construtoras em 2025 - o bairro ganhará quase 6 mil novos apartamentos e 15 mil moradores, aumentando em a população atual em 50%.
“Eu acho que a nova fronteira de desenvolvimento e de crescimento do Rio está aqui no Porto. É um projeto de revitalização urbana que agora depende da iniciativa privada”, disse o prefeito Eduardo Paes.
Nas redes sociais da prefeitura do Rio de Janeiro, é normal ver postagens mostrando o investimento em urbanismo no Porto Maravilha. Um dos projetos anunciados foi o “Porto Maravalley”, novo centro de infraestrutura tecnológica para que startups e fintechs se instalem na região.
Um empreendimento imobiliário que marcou a retomada dos investimentos no Centro do Rio foi o arremate do icônico edifício A Noite, na Praça Mauá, que pode virar um hotel ou condomínio. O prédio foi comprado por R$ 29 milhões do Governo Federal. Presidente da Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar), Gustavo Guerrante falou ao G1 sobre as pretensões com a aquisição do edifício.
“As duas principais vocações seriam residencial e hotel pelo momento que as lajes comerciais, os prédios comerciais, as grandes lajes comerciais vivem aqui no Rio de Janeiro”, contou.
Guilherme Chalo comentou as reformas urbanísticas no Centro do Rio, abordando quais grupos sociais devem usufruir dos espaços urbanísticos e tecnológicos da região.
“O que a prefeitura vai fazer com o edifício A Noite? Transformar em um hotel de luxo? Não vejo problema nenhum nessa parte tecnológica. Tecnologia não é o problema, habitação não é o problema. A questão é quais grupos sociais da cidade vão utilizar aqueles espaços. Vai diminuir ou aprofundar segregação? É um ponto”, refletiu.
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