CPMI dos atos golpistas ganha força com demissão de Gonçalves Dias
- Blog do Yan Ney
- 22 de abr. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 26 de jun. de 2023
Inicialmente contrário às investigações, o governo Lula percebe que a situação ficou insustentável com a crise no GSI.

Uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) deve ser instalada no Congresso Nacional na próxima semana para investigar os atos golpistas de 8 de janeiro. Em Portugal, o presidente Lula (PT) disse neste sábado (22) que o legislativo controla essa questão e “decide quando quiser decidir”.
A instauração da CPMI ganhou força com a demissão de Gonçalves Dias, o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Imagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto, divulgadas pela CNN Brasil, mostram integrantes do gabinete auxiliando os bolsonaristas radicais durante a invasão. GDias, como também era conhecido, foi a primeira baixa ministerial do governo Lula, empossado há menos de quatro meses.
Governistas vêem a comissão com certo pessimismo, porque desvia a atenção de deputados e senadores de pautas importantes para o Planalto, como o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária. Aliados do presidente tentaram evitar a instauração da CPMI, mas a demissão de Gonçalves Dias mostrou que as investigações precisam acontecer para enterrar a narrativa bolsonarista de que o governo teria facilitado a invasão à sede dos Três Poderes.
Em sua defesa, o governo diz que a tentativa de golpe ocorreu com muitos integrantes do GSI remanescentes da gestão Bolsonaro, já que Lula tinha acabado de tomar posse. Segundo a Folha de São Paulo, o governo quer controlar a CPMI para diminuir os desgastes com a demissão de Dias.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) defendeu a instauração da comissão durante uma viagem oficial a Londres, na última quinta-feira (20).
"O governo devia ter tido essa postura (de defender a CPMI) desde o início. Eu disse desde o início que era legítimo o Parlamento fazer as investigações. O governo se colocou contra em um primeiro momento", afirmou.
A comissão deve ser instalada por Pacheco na próxima quarta-feira (26), porque já possui assinaturas suficientes de congressistas. Essa CPMI é uma proposta de opositores na tentativa de emplacar a versão de que os ataques de 8 de janeiro não partiram de apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas de infiltrados da esquerda.

Nomes da comissão
O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, escolheu alguns nomes que vão compor a CPMI dos atos de 8 de janeiro. Enquanto na Câmara Eduardo Bolsonaro (SP), Alexandre Ramagem (RJ) e André Fernandes (CE) devem ficar com as vagas, no Senado é quase certo que uma das três fique com Magno Malta (ES).
Eduardo é filho do ex-presidente, Ramagem é ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Magno Malta é amigo de longa data de Bolsonaro e André Fernandes um apoiador do golpe e que, por isso, é investigado no STF. Segundo a CNN, líderes do PL querem Fernandes como presidente da comissão, enquanto uma ala do partido discorda, porque isso pode radicalizar ainda mais a situação.
Depoimento de Gonçalves Dias
De acordo com Gonçalves Dias, durante um depoimento à PF nesta sexta-feira (21), houve um “apagão” do sistema de inteligência para controlar a invasão à sede dos Três Poderes.
Nas imagens divulgadas pela CNN Brasil, o general aparece no terceiro andar do Planalto, onde fica o gabinete presidencial, sem dar ordem de prisão aos invasores. No depoimento, Dias disse que realizava um "gerenciamento de crise" e que não tinha como deter sozinho o grupo de invasores.
“(Dias) respondeu que estava fazendo um gerenciamento de crise e essas pessoas seriam presas pelos agentes de segurança no 2° piso tão logo descessem, pois esse era o protocolo”, mostra parte do depoimento obtido pela Folha de São Paulo.
Interlocutores de Lula dizem que o presidente ficou bastante irritado com a situação, já que havia pedido diversas vezes ao general as imagens das câmeras de segurança do Planalto, mas não obteve sucesso. No depoimento, Dias negou que reteve as imagens.
"(Dias respondeu) que todas as filmagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto no dia 8 de Janeiro foram fornecidas integralmente às instituições do Estado, sem omissão de possíveis filmagens", de acordo com o depoimento.
Gonçalves Dias era um dos homens de confiança do petista e chefiou sua segurança nos dois primeiros mandatos. Na época, por sua proximidade com o presidente, recebeu o apelido de “sombra”.
Depois da demissão, Lula nomeou o ex-interventor da segurança no Distrito Federal, Ricardo Cappelli, para comandar interinamente o Gabinete de Segurança Institucional. Desde então, ele ocupava o cargo de secretário-executivo do Ministério da Justiça.
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